Se você chegou até essa página imagino que deve acreditar que sua relação com a comida não está muito boa. Antes de conversarmos um pouco sobre o assunto, quero te contar a história de Alice:

Alice tem 3 guarda roupas no seu armário. Não estou falando do móvel e sim 3 conjuntos de peças completas em seu armário porém, cada um com um tamanho diferente: um guarda roupa de “magra” que tem roupas caras e de marca que ela comprou quando estava com o “corpo dos sonhos”. Outro um pouco maior, com roupas que usa quando está um pouco mais cheinha e o outro guarda roupa é o atual, maior ainda, que tem as únicas roupas que servem no seu corpo no momento… e que ela não gosta nem um pouco.

Ela sabe exatamente quantas calorias tem que comer e quanto de exercício tem que fazer para caber em cada um desses três guarda roupas. Para caber no armário do corpo dos sonhos ela tem que comer pouco. Bem menos do que precisa e de que gostaria. Tudo “fit”, tudo “light”, tudo “lowcarb”. Tem que malhar 3 horas por dia. E deixar de comer muitas coisas que gosta. Em seus pensamentos vai colecionando vontade de suas comidas favoritas para comer quando “sair da dieta” ou “quando chegar no peso X”.

Para se manter nesse corpo perfeito, além disso, Alice também deixa de frequentar alguns lugares, para não passar vontade de comer alguns alimentos, e de sair com algumas pessoas pois acha que podem ser “má influência” e atrapalhar sua dieta. Além disso, acompanha muitos perfis nas redes sociais de blogueiras fitness e de receitas “saudáveis”.

Fazer tantas restrições, passar muitas vontades e ter uma rotina de treino que não condiz com sua rotina pessoal, faz com que Alice, depois de um tempo, comece a “jacar” na comida e a “furar” seus treinos.

Aos poucos vai ganhando peso e passa a usar as roupas do armário intermediário. Ao ver que não consegue mais usar as roupas do corpo dos sonhos, começa a ficar ansiosa e quer retomar sua dieta. “Mas está tão gostoso comer isso que estou comendo e chegar em casa e descansar ao invés de ficar 3 horas na academia..e o que as pessoas da academia vão achar de mim agora que engordei? Vou tentar emagrecer um pouco só com a dieta antes de voltar para academia”. 

Então, já que ela já saiu da dieta mesmo, ela vai aproveitar e comer tudo que está comendo agora mas numa frequência e quantidade maior pois, logo logo, não poderá mais comer para poder voltar para a academia ter o corpo dos sonhos novamente. 

E esse comer excessivo se transforma em compulsão alimentar, onde Alice pára de se alimentar por prazer e simplesmente começa a se alimentar para se anestesiar da situação que se encontra e se punir. Já come os alimentos sem sentir o gosto, sem perguntar se realmente estava com vontade de comer aquilo, mistura alimentos doces e salgados, frios e quentes e come até passar mal e muitas vezes, a ponto de vomitar. Come só porque sabe que quando estiver de dieta não poderá mais comer. Isso a deixa envergonhada e passa a comer escondido das pessoas do seu ciclo social.

A Alice é uma personagem inventada para essa história, mas os acontecimentos que ela vive e seus sentimentos não. 

Esse é um exemplo clássico de uma relação doentia com a comida e que muitas vezes se inicia numa tentativa de ter um corpo mais magro, mais bonito, diferente do corpo que se tem. 

Agora eu te faço uma pergunta: você se identificou em algum ponto com a Alice?

Por que essa relação com a comida é algo ruim?

A relação que Alice tem com a comida não é uma relação saudável. Ao alternar a restrição alimentar para se manter num peso baixo e o comer excessivo, ela perde a referência de várias questões importantes que são características de uma alimentação saudável e de uma boa relação com a comida, como:

  • Comer o que realmente está com vontade.
  • Sentir o sabor dos alimentos assim como as outras características sensoriais (cheiro, textura, crocância, temperatura, visual)
  • Conseguir perceber quando está saciada e que é hora de parar de comer.
  • Ter prazer em consumir alimentos nutritivos.
  • Não usar a comida com uma distração para não ter que lidar com uma emoção ou sentimento ruim.
  • Respeitar memórias afetivas dos alimentos.
  • Consumir todos os grupos alimentares.
  • Não sentir culpa por comer determinados alimentos.
  • Respeitar sua fome.

Na história de Alice, destaquei vários pontos negativos da relação dela com a comida que, se não corrigidos, levarão a problemas de saúde físico, emocional e social como:

  • Distúrbios alimentares (anorexia, bulimia, compulsão alimentar)
  • Obesidade
  • Depressão
  • Comportamento obsessivo compulsivo em relação à alimentos
  • Processos inflamatórios crônicos
  • Risco aumentado de desenvolver doenças auto imunes
  • Risco aumentado de desenvolver hipertensão e diabetes
  • Risco aumentado de desenvolver doenças cardíacas.
  • Problemas respiratórios
  • Problemas digestivos e intestinais
  • Isolamento social
  • Baixa auto estima
  • Valores sociais distorcidos
  • Distorção de imagem corporal.

COMO FAZER PARA QUEBRAR ESSE CICLO E MELHORA A RELAÇÃO COM A COMIDA?

O primeiro passo é compreender e aceitar que essa forma de se alimentar não é saudável. Em nenhum aspecto. Por mais que seja estimulado pela mídia e pela sociedade (através da indústria da dieta) que devemos ter um controle excessivo sobre nossa alimentação e que isso deve ser motivo de orgulho, existe um outro lado da indústria alimentícia que nos estimula para o consumo elevado de alimentos industrializados e processados ao mesmo tempo que desenvolve produtos alimentícios capazes de nos viciar, fisiologicamente e emocionalmente.

Para sairmos desse jogo onde quem ganha são as indústrias da dieta e de alimentação (e adivinha quem é o único que sai perdendo?), é necessário começar a pensar fora da caixa e querer mudar

É um processo onde avaliar valores pessoais e propósitos de vida são fundamentais para te ajudar a superar os obstáculos do processo de mudança. Afinal, o que irá nos motivar a ser saudáveis e resistentes física e emocionalmente se não sabemos qual energia nos move e o que queremos fazer da nossa vida, onde queremos chegar, não é mesmo?

O autoconhecimento também é fundamental pois já se sabe como nossa personalidade e emoções interferem em nossas vontades (inclusive a de comida!) assim como nossa educação nutricional, cultura alimentar e a forma como gerenciamos o estresse e nossas emoções.

Outro fator de muito importância é a educação nutricional. Infelizmente o volume de produtos alimentícios de baixo valor nutricional aumentou de forma significativa. E a educação nutricional reduziu na mesma proporção mesmo com o acesso à informação de qualidade sobre alimentação saudável sendo facilitado.

A questão é que boa parte da população está condicionada a acreditar no que está sendo dito. No que estão nos vendendo. E com isso não criam o hábito de ler “as letras miúdas” e ir atrás do que isso significa. E isso vai desde acreditar que fazer dieta restritiva e ter um corpo magro é sinônimo de saúde quanto acreditar que um suco em pó realmente foi feito com frutas frescas colhidas uma a uma do pomar da fazenda do seu João. 

Saber o que estamos colocando dentro do nosso corpo é fundamental para uma boa saúde. E para isso é importante ter conhecimento sim. 

E por último mas não menos importante, ter suporte. Ter o acompanhamento de profissionais que te acolham sem julgamento e que estejam abertos a te acompanhar de forma próxima e humanizada.  

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