Em meio à pandemia, trabalhar em casa virou regrar para quase todo mundo. Para mim, o Home Office foi uma opção, para quando não estou atendendo em consultório, desde 2013, para ficar mais com meu filho (na época não tinha minha filha ainda) e ter uma melhor qualidade de vida.
Conciliar a carreira profissional com a maternidade é um desafio presente na vida de muitas mulheres. Ainda mais quando se tem dois objetivos: de ser uma profissional competente e que faz a diferença no mundo e de ser uma mãe presente e que não terceiriza os filhos.
Ao longo da minha carreira como nutricionista corporativa vi dezenas de mulheres super bem sucedidas na carreira e que, depois da maternidade, caso a empresa tivesse essa política, optavam pelo horário flexível ou Home Office. Caso a empresa não tivesse essa política era muito comum essa mulher ter que fazer algumas escolhas: ou deixa os filhos o dia todo na escola, o que muitas vezes geram muita angústia e culpa ou de sair da empresa. O sair da empresa pode ser para tirar um sabático e curtir o bebê ou até mesmo empreender.
Quando meu filho nasceu procurei me organizar da melhor maneira possível para ficar meio período com ele. Se não fosse comigo que ele ficasse com o pai dele. Depois de um tempo, entre os 2 e 5 anos de meu filho, assumi compromissos profissionais que fizeram com que ele ficasse na escola o dia todo, algo que pra mim nem para ele foi positivo, porém são escolhas que a gente precisa fazer na vida.
No meu caso, que já empreendia, estruturar meu negócio de uma forma que eu conseguisse delegar certas atividades e gerenciar outras da minha própria casa foi a solução que encontrei para ficar mais próxima do meu filho.
Para quem muitas vezes trabalhava em 3 clientes em cidades diferentes no mesmo dia o Home Office parecia um sonho! Iria reduzir o tempo que perdia me deslocando entre um cliente e outro, almoçaria em casa minha comidinha saudável, economizaria com a escola, já que ele ficaria somente meio período, conseguiria levá-lo na natação e no clube durante a semana… Enfim, curtiria a fase do meu pequeno e me realizaria como mãe e profissional.
Até que chegou o ano em que consegui fazer isso! Foi muito bacana e realmente consegui fazer tudo isso que eu imaginava. Só que junto com isso veio uma série de “bônus surpresa” que não tinha pensado que me afetaria tanto e não do ponto de vista positivo.
Nesse artigo eu fiz uma relação das principais situações que me pegaram de surpresa e que me fizeram rever meu planejamento do tão sonhado Home Office:
- Tenha um plano de atividades e uma agenda bem organizada.
Quando trabalhamos numa empresa ou escritório e temos que trabalhar 8 horas por dia com 1 hora de almoço é muito, mas muito mais fácil de organizar nossas tarefas. Agora imagine que para trabalhar em casa e ficar com os filhos você terá que produzir a mesma coisa em menos tempo.
Sei que parece loucura, mas se eu te disser que ao trabalharmos fora temos uma tendência a perder tempo com atividades corriqueiras como várias pausas para café, bate papo com colegas, reuniões mais longas do que o necessário, e o próprio deslocamento de ida e volta para o trabalho.
Ao trabalhar no esquema Home Office não temos isso, mas temos outras distrações: dar uma arrumada na casa, querer adiantar uma máquina de roupa ou o almoço, deixar a televisão ligada, entre outros.
Por esse motivo é muito importante ter uma agenda com os seus compromissos e tarefas que precisa executar e fazer um plano diário e semanal de atividades para ser o mais produtiva possível. As tarefas pessoais também devem entrar nesse planejamento e não tem problema nenhum se você mesclar tarefas pessoais e profissionais se para você funcionar bem.
- Coloque seus planos pessoais na agenda, sempre.
Um dos pontos que mais descuidei quando comecei a trabalhar mais em casa foi e de não respeitar os meus compromissos pessoais.
Lembro-me de que ao mesmo tempo em que gostava muito de ficar mais em casa com meu filho e ter mais tranquilidade eu também sentia muita falta do contato com outras pessoas e de ter um tempinho livre pra mim.
No início em demorei a compreender isso. É normal, pois normalmente colocamos nossos filhos acima de tudo. Ao longo do período fui me sentindo sozinha e sobrecarregada.
Quando compreendi que o que precisava era ter mais contato com outras pessoas e ter um tempinho para fazer coisas para mim, como ler, dar uma volta no shopping, tomar café com uma amiga ou qualquer outra coisa que não envolvia ficar em função de filhos e trabalho.
Tomar esse cuidado fez uma diferença enorme na minha produtividade e principalmente, na minha felicidade.
- Deixe sempre uma folga na agenda.
Fazer uma agenda sem nenhuma folga é um erro fatal, não só para quem trabalha em casa, mas para qualquer pessoa. A vantagem de trabalhar em casa é ter flexibilidade, portanto as folgas na agenda são fundamentais e se você conseguir colocar isso em prática verá que é fantástico poder tirar um cochilinho com seu filho no meio da tarde sem sentir culpada ou dar uma pausa no trabalho para assistir o desenho preferido do seu filho ou até mesmo precisar ficar um período sem trabalhar para cuidar do seu filho caso ele fique doente e precise faltar na escola.
- Ficar mais tempo em casa dá mais trabalho.
Essa foi a parte mais dificil pra mim. Ficar mais tempo em casa é ótimo mas também a casa fica mais bagunçada, principalmente por causa das crianças, tem que ser limpa com mais frequência, no meu caso que faço questão de cozinhar, tem mais trabalho em função disso, fora a cozinha para arrumar.
Hoje tenho uma funcionária que vem a cada 15 dias. Ou seja: o dia a dia sou eu quem tenho que encarar!
Temos que desenvolver técnicas de arrumação mais eficazes e, caso tenha mania de arrumação, desenvolver uma nova habilidade de relaxar um pouquinho e arrumar a bagunça só no fim do dia, depois que as crianças forem dormir.
- Não queira fazer tudo sozinha.
É comum nós mulheres vestirem o uniforme da Mulher Maravilha e querer fazer tudo sozinha e do nosso jeito. Sinto muito lhe dizer que, apesar de amar a Mulher Maravilha e achar ela linda demais, querer fazer tudo sozinha não dá certo na realidade.
Se for possível tenha uma funcionária em casa para ajudar na limpeza pesada alguns dias na semana. No dia a dia, conforme seus filhos forem crescendo vá delegando algumas tarefas para eles.
Com meu filho mais velho, que hoje tem 13 anos, está bem fácil. Ele tem as tarefas dele para cuidar como arrumar a cama, colocar roupa suja no cesto de roupa, faz lição de casa sozinho, leva o lixo pra fora, arruma a mesa, tira a louça suja da mesa, me ajuda com algumas coisas da irmã mais nova, quando necessário. E o legal disso é que, a caçula, ao ver o irmão sendo colaborativo, já tem esse espírito de querer ajudar nas atividades domésticas.
Nesse esquema fico menos sobrecarregada e a família toda participa da rotina. O que de certa forma aumenta o entrosamento entre todos.
- Crianças são uma caixinha de surpresa, portanto, tenha sempre um plano B.
Planejar atividades com filhos depende muito de como é a rotina e comportamento dos seus filhos. O ideal é evitar atividades de trabalho durante o período que fica com as crianças. Até mesmo para aproveitar o momento com eles.
Mas se por algum motivo precisar fazer isso tenha sempre um plano B. No meu caso, várias vezes precisei levar meus filhos em reuniões mais informais de trabalho ou até mesmo deixá-los aparecer na webcam do meu computador para falar oi para meus clientes quando precisei agendar sessões noturnas online com clientes e eles ainda não tinham dormido!
É importante separar tempo para vida profissional e pessoal mas para quem trabalha em casa e tem filhos pequenos, ter jogo de cintura para saber mesclar isso de vez em quando, deixa a vida mais leve e mais tranquila!
- Não se cobre demais.
Mulheres tem costume de se cobrar demais. Queremos fazer tudo perfeito e, de certa forma, existe ainda uma certa cobrança externa para que isso ocorra dessa forma.
Para evitar sofrimento reconheça que se você optou por manter seu desenvolvimento profissional mesmo com filhos pequenos e ao mesmo tempo ser uma mãe presente você já é uma vencedora.
A casa pode não ficar impecável, às vezes uma ou outra tarefa dos filhos sem fazer ou até mesmo um pequeno atraso numa tarefa profissional. O importante é ter a consciência de que você está fazendo o seu melhor e que as coisas funcionam. As vezes de forma imperfeita mas funcionam.
Com base na minha experiência eu acredito que trabalhar em casa para ficar mais próximo dos filhos é algo que vale a pena demais, mas para que isso funcione bem é necessário se colocar na agenda e treinar sua organização e disciplina. E se mesmo com tudo isso as coisas não saírem da forma que planejou a melhor coisa a fazer é treinar o jogo de cintura, relaxar e colocar em prática o plano B!
O fato é que nossos filhos vão crescer e não temos como recuperar a infância deles se não estivermos presentes. E essa fase passa mais rápido do que a gente imagina e fazer parte disso não tem preço!
Com carinho,
Fernanda