Nos últimos anos o glúten tem sido altamente criticado e banido das dietas sendo considerado um vilão do emagrecimento e da alimentação saudável.
Mas será que essas informações procedem? Será que o glúten é realmente esse vilão?
Nesse artigo eu vou te explicar o que é o glúten, em que situações ele pode afetar nossa saúde de forma negativa e quais são os 5 principais sinais de sensibilidade ao glúten.
O que é glúten
Glúten é uma proteína (combinação de gliadina e glutenina) presente no trigo, centeio e cevada. A aveia, apesar de ser sinalizada nas embalagens como fonte de glúten, não contém glúten na sua estrutura e sim por contaminação, por ser processada nos mesmos locais dos alimentos que contém glúten.
Uma das principais funções do glúten é proporcionar maciez e elasticidade em diversas receitas, principalmente em produtos de panificação.
Se você quer de saber como é o glúten, clique aqui e assista o vídeo que mostra uma experiência com farinha isolando o glúten.
Porque o glúten pode fazer mal para nossa saúde?
Como nutricionista há 20 anos, observo o quanto o número de pessoas com sensibilidade ao glúten aumentou. Eu mesma descobri essa sensibilidade ao glúten aos 26 anos.
Mas porque será que essa sensibilidade aumentou tanto? Já vi pessoas achando que é uma frescura, que antigamente não tinha nada disso e que não tem nada a ver.
Quero te explicar um pouco sobre vários fatores que fizeram com que o número de pessoas com sensibilidade ao glúten aumentasse nas últimas décadas:
- O trigo que consumimos hoje foi alterado geneticamente entre as décadas de 60 e 70: Entre as décadas de 60 e 70 as plantações de trigo nos Estados Unidos e no México tiveram uma grande perda. Foi feita então uma mutação genética para aumentar o rendimento da plantação por hectare e para que ela ficasse mais resistente às pragas. Criou-se uma espécie chamada de “trigo anão”, que passou a ter catorze tipos de glúten, que não existiam no original, e serviu de base para a expansão da indústria de produtos alimentícios. Na época não foram desenvolvidas pesquisas para saber se esta novidade seria bem recebida pelo organismo humano. Quando ele não reconhece as frações mal digeridas, tenta combatê-las, produzindo substâncias chamadas de pró-inflamatórias, o que desencadeia um processo inflamatório que culmina em diversos sintomas físicos, mentais ou emocionais. Para saber mais sobre o processo de modificação genética clique aqui.
- Aumento da utilização de glúten na indústria de alimentos como aditivo alimentar, principalmente como espessante: uma vez vi o rótulo de um achocolatado que tinha glúten… como assim? É leite com chocolate! Porque precisa ter glúten? Pois é… alguém teve a brilhante ideia de adicionar uma proteína altamente alergênica num achocolatado e em outros produtos que naturalmente não contém glúten.
- Mudança no padrão de alimentação: até pouco tempo atrás o consumo de pão era basicamente feito no desjejum. Hoje chego a atender pessoas que comem pão 6 vezes por dia! Já não bastasse nosso trigo ser modificado geneticamente, ainda aumentamos o consumo de forma significativa.
Como ocorre o processo de sensibilidade ao glúten
Quando temos alimentos que não são bem digeridos, seja pela falta de enzimas, seja pela sua característica ou pelo consumo excessivo eles vão ficando “presos” em nosso intestino.
Pensa que ele alimento que fica preso em nosso organismo vai continuar “tentando passar” do intestino para nossa corrente sanguínea, por isso ele faz uma pressão tentando passar pelas junções do intestino que foram feitas para receber estruturas de nutrientes menores do que um alimento mal digerido.
Além disso, muitos desses restos que ficam grudadinhos no intestino, vão apodrecendo e servindo de alimento para as bactérias ruins (patogênicas – causadoras de doenças) do nosso intestino, causando um desequilíbrio entre elas e as bactérias boas, que são as de defesa. Sabe aqueles gases intestinais que saem com um cheirinho bem ruim? Pode ter certeza que tem coisa estragada nesse intestino!
O que acontece com o tempo é que, de tanto causar pressão na parede intestinal, a camada protetora do intestino acaba ficando irritada e as junções que antes eram bem apertadinhas, começam a ficar mais largas, como na figura abaixo.
E é aí que essa proteína mal digerida passa para a corrente sanguínea. Por ser um corpo estranho, o organismo ativa o sistema imunológico para expulsar essa substância, porém, se ingerimos alimentos fonte de glúten várias vezes ao dia, é como se “a torneira do glúten não fechasse nunca”, ou seja, meu sistema imunológico trabalha de forma constante e acaba perdendo sua eficiência.
Por isso que processos inflamatórios crônicos fazem que nos sintamos doentes mesmo não tendo nenhuma doença diagnosticada.
E quais são os principais sinais de sensibilidade ao glúten?
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falta de energia
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Irritabilidade
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Dor articular
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retenção de líquidos
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ganho de peso e obesidade
Para saber mais detalhes sobre os sintomas assista um vídeo meu explicando cada um dos sintomas.
Como descobrir se tenho sensibilidade ao glúten?
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avaliar sinais e sintomas:
Um bom nutricionista através de um questionário detalhado de sinais e sintomas irá te ajudar a identificar essa sensibilidade. Vejo a avaliação de sinais sintomas como algo soberano para fechar o diagnóstico (mais até do que os exames de sangue). Nesse link disponibilizo o questionário que uso no meu consultório como parte da avaliação.
2. avaliação da alimentação:
Compreender como é o padrão alimentar do cliente é fundamental para identificar a sensibilidade alimentar. Já atendi muitos clientes que tinham sintomas pelo consumo excessivo ou associado com fases intensas de estresse. Depois do tratamento, voltaram a fazer introduções em porções menores e com menor frequência e os sintomas não voltaram.
3. exames de sangue:
Hemograma, proteína C reativa e antigliadina já ajudam a identificar possíveis processos inflamatórios.
4. Teste de sensibilidade:
Os mais específicos são que avaliam sensibilidade ao glúten já existem mas para alguns pode não ser acessível. Podem ser testes de saliva, cabelo e sangue. Minha opinião: não costumo pedir pelo custo elevado. Sou fã da boa avaliação de sinais e sintomas e do padrão alimentar e a aplicação do protocolo 5R’s
Como tratar?
Para tratar a sensibilidade ao glúten eu costumo aplicar o protocolo 5R’s que consiste nas seguintes etapas:
Etapa 01 = Remover:
A primeira fase é diminuir o consumo de alimentos nocivos à microbiota, como aqueles com agrotóxicos, produtos ultraprocessados, com alta carga glicêmica e uso excessivo de recipientes plásticos. É necessário avaliar possíveis hipersensibilidades alimentares, removendo componentes alérgicos, aditivos químicos e outros xenobióticos alimentares, proporcionando melhora do padrão alimentar.
Etapa 02 = Recolocar:
Em outras palavras, otimizar o processo digestivo por meio da escolha de alimentos e chás com efeito digestivo. Gosto de prescrever o consumo de chás que irão favorecer a motilidade e a secreção gástrica, ajudando a amenizar sintomas associados ao processo digestivo prejudicado, como distensão abdominal e gases. O uso de enzimas digestivas também pode ser feito.
Etapa 03 = Reinocular:
Fase indicada para proporcionar a melhora da qualidade da microbiota intestinal, incluindo estratégias com alimentos ricos em fibras prebióticas, como banana-verde, farelo de aveia, grãos integrais, entre outros, que irão proporcionar a proliferação das bactérias probióticas.
Etapa 04 = Reparar:
Esse processo é realizado para restaurar a saúde das células intestinais, reduzindo a permeabilidade intestinal, regulando a inflamação e a presença de bactérias patogênicas. Indica-se manter a alimentação anti-inflamatória e, se possível, complementar com a suplementação de glutamina, ômega-3 e vitamina D.
Etapa 05 = Reequilibrar:
Devemos sempre estimular o cuidado emocional e mental do paciente que também interfere na saúde do intestino. Dessa forma, nesse último passo a sugestão é incluir estratégias que visam a melhora do sono, a saúde física, a autoestima, reduzam o estresse e o impacto de situações de estresse no corpo. Dentre elas, podemos destacar técnicas de meditação diariamente, momentos de descontração na rotina e consumo de alimentos com propriedades estimuladoras do bem-estar.
Conclusão:
O glúten naturalmente não é um vilão alimentar, porém com todas as modificações genéticas na produção de trigo, no seu uso na indústria alimentícia e também do padrão alimentar da população, vejo como necessário sim um olhar mais atento às queixas de saúde e também à uma diversidade alimentar maior, diversificando o uso de farinhas e alimentos que naturalmente não tem glúten em nossa alimentação.
Para saber como substituir os alimentos fonte de glúten no seu café da manhã, clique aqui.
Observe seus sinais e sintomas e como está sua alimentação. Esse já é um bom caminho para identificar a sensibilidade ao glúten e estar aberto ao tratamento.
Com carinho,
Fernanda Giacomo
Nutricionista – CRN3 13525
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